quarta-feira, 30 de setembro de 2015

É preciso manter o foco - Parte 2 - As bocas 
By Carla Pepe


Ela havia ficado uns dias sem conseguir correr, uma viagem de trabalho a tirou da cidade. Naquele dia tinha saído apressada de casa, pois não queria perder a hora. Seu coração batia acelerado, talvez porque pensasse em encontra-lo. Será que ele estaria lá no mesmo lugar? Será que conversariam? Se arrumara um pouco mais para sua corrida matinal: um novo top, uma bermuda mais transada e uma blusa mais feminina. Queria estar bonita caso o visse.  Tinha consciência de que era uma mulher comum. Mas aquelas mãos não saiam de sua cabeça. 

A manhã estava mais abafada que o normal e ele fazia sua caminhada lentamente, ainda sentia dores no joelho, mas precisava continuar. Desde o esbarrão ela não aparecia para sua corrida matinal, talvez fosse o trabalho ou tivesse mudado de horário. Mas ele resolvera não pensar nisso. Ela tinha mexido com ele sem que ele soubesse explicar porque. Afinal, era uma mulher de beleza normal, nada fora do comum, corpo cheio de curvas, volumoso, coxas grossas, seios fartos. Definitivamente, ela era sensual e o atraía. Ele queria descobrir o que estava por trás daquela pessoa tão ordinariamente comum. 

E assim, perdido nos seus pensamentos, ele não a viu se aproximar. Ela logo disse: "oi, você por aqui..." e ficaram ali conversando como se o tempo não pudesse mais passar. Eles podiam falar sobre qualquer assunto, era como se fossem feitos um para o outro. De repente, ela olha o relógio e diz que precisa ir embora trabalhar. Ele pede seu telefone e a convida para uma cerveja mais tarde. Conhecia um bom lugar com cervejas artesanais e boa música. Ela lhe passa o número, ainda incerta da decisão. 

Nesse momento suas mãos se tocam e uma explosão de sentimentos eclode entre eles. Ele a puxa para si e a beija com sofreguidão. As mãos procuram sem corpo, suas costas, seu pescoço, suas nádegas, seus seios. Ele precisa toca-la urgentemente como se quisesse ver se ela era real. Ela corresponde aos beijos, se deixando levar por aquela paixão que lhe toma o cérebro, o coração, a alma.  Sente as mãos dele em seu corpo e lhe sobe um calor e uma umidade. Ela, com suas mãos, procura o corpo dele. 

E eles ficam ali perdidos em si mesmos, como se dois fossem um. As bocas parecem querer ficar unidas para eternizar aquele encontro. Mas ela recobra a razão e interrompe o momento de prazer e vai embora com pressa. Ele fica ali paralisado e emudecido com o que acabara de acontecer. Em sua vida, nunca agira por impulso, sempre fora metódico e organizado. E agora se sentia em ponto de ebulição.  

Nada que um bom banho de mar não resolvesse...






segunda-feira, 28 de setembro de 2015


É preciso manter o foco - Parte 1 - As mãos 
By Carla Pepe


Ele a via todos os dias correndo no calçadão, fone nos ouvidos, bermuda, tênis, blusa. Ela chegava sempre distraída, ajeitava a blusa e apertava o play. Quase todos os dias quando ela chegava, ele já havia acabado os exercícios dele. Sua caminhada leve e os alongamentos lhe deixavam estenuado, desde a cirurgia no joelho. Por isso, ficava tomando uma água sentado na bancada olhando o mar. Ele também sabia que a esperava todos os dias. Não saberia explicar o que o atraía naquela mulher, o que era interessante nela é seu aparente desconhecimento do quanto era atraente. Mesmo suada, esbaforida, ele via os seios saindo do top, o bumbum grande e arredondado, o corpo volumoso. Afe Maria!

Ela vinha concentrada pensando na dieta, na academia, nas exigências e demandas do trabalho. Tinha vindo correr na força de vontade. Precisava manter o foco. Seu corpo era volumoso: morena, seios fartos, quadris largos e barriga. Correr diariamente, além de ajudar a manter a forma, lhe ajudava a clarear os pensamentos. Sentia-se livre e capaz de se desligar das pressões que sofria no dia-a-dia. Ligava sua playlist e lá ia pelo calçadão sem notar quem estava a sua volta.

Fazia um sol quente e lá vinha ela apressada, tinha se atrasado e a preguiça quase a pegara de vez. Vontade louca de ficar na cama até se cansar. Uma preguiça imensa lhe invadiu a alma naquele dia. Mas era preciso manter o foco. E lá estava tão absorvida com seus pensamentos que não o viu a frente. Esbarraram-se e caíram cada qual para um lado. Ela ficou desconcertada. Ele foi grosseiro. Diante da grosseria, ela esbaforiu e soltou um sonoro palavrão: "vai se foder. foi sem querer, não viu?"Ele, enfim, se deu conta de quem o tinha derrubado, mas era tarde. Seu joelho doía, ele não conseguia se levantar e tudo que conseguiu foi ser grosseiro. Ela viu a dificuldade dele em ficar em pé e o semblante de dor. Ofereceu ajuda, estendeu-lhe a mão. Quando enfim ele conseguiu se levantar, seus corpos ficaram tão próximos que era possível sentir-lhe a respiração. Ela pediu desculpas novamente e seguiu apressada. Ele ficou ali vendo aquela mulher-enigma-comum partir para mais uma corrida.

Ela voltou da corrida e o encontrou sentado ainda próximo ao mesmo lugar. De longe, o observava:  pele curtida de sol, corpo bonito sem ser  magro e forte. Seu rosto era normal, gostava de homens normais, desses que não se encontra nos comerciais. O que mais lhe encantava nos homens eram as mãos e as dele eram perfeitas. Ele tinha mãos de homem, mãos para pegar de jeito, puxar para perto, para beijar. Estava ficando cheia de calor pelos seus pensamentos.

Ela resolve se aproximar e perguntar se estava tudo bem com ele. Ele responde que sim e conta que tinha feito uma operação no joelho e fazia caminhadas leves e alongamento todos os dias como parte da rotina de exercícios recomendada. Ficam ali conversando um pouco. Ela se levanta e vai se despedir. Ele diz que esta ali todos os dias naquele mesmo horário. Apressada ela insiste que tem que ir embora. Ele pega sua mão, ela sente o calor subir por entre as pernas. Tira logo a mão e segue afoita sem olhar para trás. Ele fica ali observando ela ir embora desejoso que amanha ela aparecesse novamente para mais uma corrida e quem sabe...bom ele ia pensar nisso quando chegasse a hora.












domingo, 27 de setembro de 2015


Qualquer maneira de amar
By Carla Pepe

Esses dias ando emotiva, talvez seja TPM ou a vida que anda complexa, cheia de contradições. A verdade é que sou uma pessoa intensa com uma voltagem de 440v. Faço mil coisas ao mesmo tempo: levo filha e os sobrinhos para pegar doce de cosme e damião, brincar na piscina, almoçar no restaurante preferido, fazer bagunça na minha casa.  Cansou? Eu não! Ainda consigo ler artigos interessantes, ouvir boa música, ver um bom filme. Ah sim e, no caminho, chorar com a música animada, gargalhar com a matéria ridícula e ficar pensando na mensagem do filme bobinho.

Eu acredito que a vida é experiencia única e intransferível, por isso decidi vivê-la de forma intensa e apaixonada. Sim,  sou apaixonada por tudo a minha volta. Apaixonada por novos e velhos ideais, opiniões e indicações. Novas bandas, novos conceitos, novas letras, novos compositores. 

A vida também tem suas provocações. Enfrento cada uma delas, com um pouquinho de medo, pois sei que sou capaz de ultrapassa-las. E se não conseguir superar, terei bons aprendizados para o caminho a minha frente. Superar os obstáculos é preciso, mas ás vezes, é necessário reconhecer que puxar um ar antes fará toda diferença. 

Sou uma pessoa corajosa. Não daquelas que andam em montanha russa ou enfrentam filmes de terror. Minha coragem é a de amar e dizer que amo, de expor minhas vulnerabilidades sem temer os julgamentos ou os deboches. Não porque não me importe com a opinião alheia, mas porque os que verdadeiramente me amam me aceitam exatamente como eu sou. Descobri que sou amada e aceita bem mais do que eu realmente mereço, mas na intensidade com que me dedico aqueles que amo. Estou sempre preocupada com aqueles que amo, rezo por cada um todos os dias para que sejam amados e cuidados. Conheço o olhar, o riso, gesto, o tom de cada um.

Vivo minha vida sem me preocupar com a competição, com quem é ou está melhor. Meus parâmetros são os meus: quero hoje ser melhor do que fui ontem e se não conseguir tudo bem, há sempre novo amanhecer para tentar de novo. 

Sou mulher, mãe, amante, tia, amiga, camarada, profissional. Sou muitas em uma só.  Meu ser se expande a cada limite superado. Cada quilometro vivido me proporciona nova metamorfose. E assim me transformo de lagarta em borboleta repleta de cores e a procura das flores para pousar. 

Caminho reconhecendo minha força e minha fraqueza. Minha coragem e meus medos. Minhas contradições e coerências. Desejo apenas amar e ser amada. Aceitar e ser aceita. 

Esses dias ando emotiva...


sábado, 26 de setembro de 2015

Pequeno universo By Carla Pepe


Pequeno universo
By Carla Pepe


Já dizia o Poeta Luiz Maurício, "a beleza é mesmo tão fugaz, é uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer" (Apenas mais uma de Amor, Lulu Santos). Realmente a beleza, a estética, a que vê apenas o que está na superfície é mesmo perene, transeunte de uma vida corrida que só nos permite olhares breves. Hoje em dia preocupamo-nos em usar clichês, estereótipos como a melhor forma de entender as pessoas. Ana é santa, Maria é vadia, Joana é inteligente. E ainda tem a Paula, que mesmo gordinha, é bonita. É como se só fosse permitido sermos uma única coisa: ou se é gordo ou belo. Ou se é inteligente ou burro, santa ou vadia. Como se ser duas, três, quatro ou dez pessoas numa só não fosse permitido. 

Eu posso ser fora dos padrões estéticos - gorda, gordinha, fofinha - e  ser absurdamente linda. Posso também comer de forma saudável, fazer exercícios e, ainda assim, manter minhas formas arredondadas. Posso ser séria, falar de política, dramas sociais, literatura e ainda assim saber quem foi o último namorado da atriz famosa do último minuto. Posso falar as coisas mais sagradas e buscar experiencias com o profano que é o meu corpo. Podemos ser muitos e apenas um. Podemos amar a todos e, ainda assim, saber que o amor impõe limites, potencialidades, finitudes. 

O essencial é entender e construir seu próprio caminho, lembrando apenas que você não segue só. Seguimos sempre acompanhados por outras tantas pessoas cujos caminhos, mesmo que próprios, se entrelaçam aos nossos. Se entrelaçam mas se mantem singulares, únicos, assim como nós. Eu sou singular, única no mundo, não há outra igual a mim. E por isso, que consegui descobrir algo fantástico: o segredo da felicidade. Quer saber qual é? Chega bem perto que eu vou te contar sussurrando: o segredo está em apaixonar-se pela pessoa mais importante no seu pequeno universo: VOCÊ. 



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Um café duplo, por favor - Final - Entre a cama e o café By Carla Pepe

Um café duplo, por favor - Final - Entre a cama e o café 
By Carla Pepe 


João estava numa encruzilhada de sentimentos: queria ficar com Liz, mas não daquele jeito fugaz. Queria compromisso, algo  mais. Mas toda vez que ele tentava falar no assunto ela desconversava como se soubesse que a hora derradeira estava próxima. As noites entre eles continuavam ardentes. Ele sentia que, ultimamente, mais ardente do que antes, porque ela andava mais aberta, solta, por vezes tomando a iniciativa. Ela o deixava louco: boca, mãos, pernas, coxas, seios. Como ele amava se perder naquele corpo tão sensual. Ele nunca tinha sentido algo assim antes, tanta paixão, tanto prazer. Por isso, estava ali refém dos seus sentimentos olhando-a dormindo na cama. 

O dia amanheceu e Liz sentia uma preguiça em levantar, queria ficar um pouco mais na cama. Pensar mais, aproveitar aquele momento só seu. Naquela noite, João não havia ficado. Eles tinham se desentendido novamente. Ele queria sair para jantar fora e depois ir ao cinema. Ela preferia ficar em casa e curtir aquele momento só deles. Na verdade, ela sabia que preferia mesmo era ir para cama com ele e perder-se no seu corpo, como era maravilhoso experimentar a entrega com ele.  Com ele, tinha descoberto seu corpo, como era sexy, como gostava de experimentar coisas novas na cama e fora dela. Ele a fazia esquecer de tudo. Hoje ela se sentia mais segura, mais firme, mais capaz, mais certa do que desejava. Ela queria erotismo, lascívia, não tinha mais paciência para os filmes melosos de amor. Ela queria a cama e ele o café.   

Mais uma noite e eles brigaram novamente. Nos últimos tempos, tudo que faziam era brigar e fazer as pazes. O momento de construir a paz era único entre eles. Seus corpos já conheciam o caminho do prazer e da paixão que proporcionavam um ao outro. Mas ambos sabiam que aqueles encontros ardentes não eram mais suficientes.  Eles estavam apenas adiando o enfrentamento da questão inabalável: continuariam apenas na cama? Ou embarcariam numa expansão para além? 

Finalmente, o dia tão adiado chegou, eles tinham transado a noite toda como se ensaiassem o duelo. Foi uma noite sem pressa, sem palavras, sem desculpas. Tudo que foi possível fazer foi feito. Tudo o que o desejo pediu, eles cederam. Mas a noite não dá trégua e o dia chega e com ele a realidade. O erotismo não era mais suficiente para ele, afinal ele sabia que aquilo havia de acabar. Ela queria a liberdade de ser, de agir, de não pensar, de não se comprometer. Como eles ficavam? Como acomodar duas concepções tão distintas? Sua decisão estava tomada. A luta havia chegado ao fim. A despedida precisava ser breve e terna. 

Mais um dia no café, Liz abriu a loja, naquele dia com um sorriso diferente, um batom rosa, um vestido decotado e bem colorido. Seus cabelos pareciam esvoaçantes e brilhantes. Os clientes costumeiros notaram que ela estava resplandescente. Alguns chegaram a pensar como seria aquela mulher no quarto. Outros a elogiavam dizendo o quanto estava bonita mesmo sem saber o que fazia dela uma linda mulher. Mas, em seu interior, ela sabia exatamente o que era. Era dona de si, livre em seu pensar, em seu agir. Era senhora de suas escolhas, do seu próprio mundo, de sua vida, de seu prazer. Era, simplesmente, feliz...









sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A cor do dia - Carla Pepe

A cor do dia 
By Carla Pepe
Vermelho da rosa
Do sangue, da prosa.
Da moça toda formosa.
Cor da pulsão,
Cor da paixão
E do grande coração.
A cor hoje é vermelha.
Cor da Luta.
Da fruta.
Da boca de musa.
Vermelho da força de um dia.
Que luta todo dia
Para ser quem diria
Cida, Madalena ou Maria.
Mãe, vadia, mulher.
Vermelho e a cor do meu dia
Seja aonde eu estiver.


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Um café duplo, por favor - Parte 3 - Perdas e ganhos - Carla Pepe

Um café duplo, por favor - Parte 3 - Perdas e ganhos
By Carla Pepe 

João andava pensativo sobre a relação com Liz, não sabia para onde caminhar. Os dias em que estavam juntos eram maravilhosos. A relação entre eles era aberta e sempre inovadora. Parecia que seus corpos tinham nascido um para o outro. Mas tudo terminava aí: no corpo. Toda vez que ele tentava ir além, Liz impunha um limite. Não conseguia ficar o final de semana juntos, um almoço que fosse.  Ele não sabia nada sobre a família dela, nem ela sabia sobre a dele. Ele tinha curiosidade de saber seu prato preferido, seu filme,  seu gosto musical. Sentia algo por ela que nunca sentira antes. Reconhecia que ele também não insistia demais temendo perde-la. 

Naquele dia, ela estava diferente no café, mais radiante, mais feminina; Ninguém saberia dizer o que exatamente era. Se era o batom nos lábios, o brilho no olhar, o decote da blusa, o colorido da saia. Os fregueses habituais notavam que aquela mulher estava diferente. Como se dentro dela tocasse uma música que somente ela sabia qual era. Ela não era bela, era dessas mulheres comuns, mas de alguma forma era atraente. E naquele dia, alguns clientes perceberam algo mais na dona do café. Nem Liz saberia dizer o que era, s[o sabia que sentia uma pulsão de vida vir de dentro dela.  

Ela acordara vigorosa, cheia de vontade de caminhar, de se arrumar, de passar um batom, de sorrir para vida, de flertar com os rapazes, de cantar uma música. Seu coração tinha todas as dúvidas em relação ao que fazer no que dizia respeito a João. A única certeza que ela tinha era de que estava, naquele momento, muito bem consigo mesma. Não temia perde-lo, pois sabia que não possível possuir alguém. Não queria quem a possuísse. Queria algo fugaz mesmo, algo que fosse perene, pueril. Agora entendia porque a juventude dele tanto a atraia. Porque gostava tanto de estar em seus braços e se encontrar. Mas sabia que ele vinha querendo mais. E que a hora derradeira de dizer a ele a verdade chegaria. Na balança estavam suas perdas e seus ganhos. 

Ele chegou no café, no final do dia, decidido a conversar com Liz para dizer que as coisas não poderiam continuar daquela forma. Ao chegar no café, percebe o olhar dos fregueses sobre ela. Na verdade, naquele momento, ele a vê como há muito tempo não a via. Mulher independente, dona de si, cheia de brilho, batom nos lábios, felicidade exalando no corpo inteiro. E diante de tal constatação, todas as decisões escoam pelo ralo. Ah mulher danada... se a pressionasse a perderia, mas se afrouxasse ele é quem ficaria ali na beirada a querer sempre mais. 








Eu me amo (Carla Pepe)

Eu me amo. Não posso mais viver sem mim (Ultraje a Rigor)
Ontem queria ter escrito sobre uma declaração de certa atriz, mas tudo que escrevi pareceu grosseiro demais para quem lê minha linha do tempo...
Hoje o que eu gostaria de dizer para ela é que é uma pena que ela tenha tamanho preconceito, tamanho falta de amor para com o próximo. Afinal, todos somos no mundo resultado de um somatório de fatores: sociais, culturais, econômicas, políticas, étnicos, biológicos, entre outros.
Penso que ela apenas falou o que parte da sociedade pensa, afinal nos vemos cercados o tempo todo da ditadura da magreza, da beleza, da estética. Ontem um professor do qual sou fã deu uma aula sobre a diferença de padrão saudável e estético e de como pode ser distorcida da imagem corporal de uma pessoa. Posso ser saudável e não necessariamente ser magra. E posso ser magra e não necessariamente ser saudável. Essa conta não fecha exatamente assim.
Posso ter um corpo fora dos padrões estéticos ocidentais e ser saudável, linda e sexy. E com isso falo também das magrelas, das extremamente gordas, das muito altas, das muito baixas, entre outras. Ou seja, de todas as que ficam fora da curva dos padrões criados pela sociedade capitalista que forma a consciência coletiva e molda o que é belo e "victoria angel".
Senhora Atriz sou uma pessoa linda, amada e maravilhosa, não importa o tamanho do meu corpo. O que realmente importa é o que tem dentro do coração: a bondade, a caridade, a compreensão de que o outro é diferente de mim. O que me faz diferente é a minha capacidade em compreender que posso ser linda pelo meu largo sorriso, meu olhar ainda que meu corpo seja diferente daquilo que é considerado padrão modelo de beleza.
A senhora meu desejo de que seja bem cuidada em sua idade e que nenhuma pessoa gorda caia sobre si, afinal de tão magra que és pode quebrar algum osso. O que na sua idade é um mal...Boa noite!!!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Eu sou... Carla Pepe

Eu sou...
Carla Pepe
Eu sou a menina que ri
A moca que gosta de sacudir
A mulher que vai ate ali.
Eu sou vento, furacão, sul e norte.
Mar, onda, tsunami e maré forte.
Fogo, brasa, luz que brilha e acode.

A bailarina, a passista, espanhola.
A professora toda séria que não aceita cola.
A mãe da menina que beija e ajeita a sacola.
Eu sou. Tu és. Nos somos.
Ninguém é só.
Somos todos mais do que um.
E de todos temos algum.
Oi, eu sou...Nos somos.
E tu quem és?



sábado, 12 de setembro de 2015

Um café duplo, por favor - Parte 2 - E agora? By Carla Pepe

Um café duplo, por favor - Parte 2 - E agora? 
By Carla Pepe 


Ela imediatamente respondeu: "já estamos fechados. Não temos mais café. As máquinas estão desligadas." Mas a mão dele não saia de cima da sua. E os olhos não saiam de cima dos seus. E como se tivessem magnetizados se beijaram. E foi o melhor beijo da vida de Liz. Um beijo, dois, três, dez beijos. As mãos de João percorreram seu corpo como numa urgência de conhecer melhor aquele universo tão observado. E ali eles ficaram perdidos no meio da noite sem entender o que acontecia. E sem muita compreensão, estavam indo para o apartamento dela. E lá ficaram a noite toda, loucos um pelo outro, eram dois corpos e ao mesmo tempo um. Foram tantas curvas, gestos, posições e prazeres. Tanta juventude e gozo que ela nem entendeu quando acordou de manhã e o encontrou dormindo ao seu lado. As roupas espalhadas pela casa. Sua cabeça confusa pela cerveja consumida e pela paixão que a embriagara. E agora? O que fazia?

João acordara desnorteado também tentando decifrar o que tinha acontecido na noite anterior. Nem sabia porque tinha voltado ao café. No meio do caminho quase desistira, mas finalmente resolvera ir até lá. E agora lembrava da noite com a moça da cafeteria, Liz. Que noite impressionante!!! Nem ele esperava aquela noite. Tanta paixão, tanta entrega. A noite toda de paixão pela casa. Que mulher era aquela. Mesmo as mulheres mais abertas com quem tinha estado, não o tinham preparado para aquela noite. Só de pensar já sentia o sangue ferver novamente. O olhar procurava a moça e não a encontrava. O quarto estava vazio. E agora? O que aconteceria?

Os dois se encontraram na sala com um olhar meio sem ter o que dizer. Começaram uma conversa meio sem querer e quando viram estavam novamente se beijando intensamente. Alguma coisa naquele universo particular os magnetizava, os atraía, os puxava um para o outro. Dessa vez, Liz resolveu quebrar o clima quente e disse: "precisamos sair...tenho que abrir a cafeteria." João ficou ali parado sem entender o que aconteceu e saiu do apartamento. Seguiram andando lado a lado em direção a loja sem saber qual seria o próximo passo.

E assim, quase em querer, acabaram por estabelecer uma rotina: duas ou três vezes por semana, na hora de fechar, João aparecia. Ela fechava o café e eles caminhavam lado a lado, as mãos se tocando como se não pudessem ficar longe uma da outra. Os corpos iam se aproximando como se só fosse possível existir um junto ao outro. O apartamento dela virou uma alcova dos amantes, um refugio, onde eles desfrutavam da companhia dos seus corpos, de boa comida, boa cerveja, boa música. Dançavam todos os ritmos numa entrega total à paixão que os consumia sem pensar nas distâncias que os separava.

Naquele dia, depois que João foi embora, Liz ficou pensativa. Demorou a sair para a loja. Estava preocupada com o rumo das coisas. Já estavam assim há dois meses e João vinha querendo mais. Vinha insinuando mais dias, mais horas. Quem sabe passar juntos um final de semana. Gostava do tempo que passavam juntos e só. Como conversar isso com o rapaz sem que o perdesse? O que faria?  Tantas interrogações e nenhuma certeza. Liz estava descobrindo que a vida tinha mais perguntas que respostas. E ela não sabia o que fazer. E agora? 


Uma ilha By Carla Pepe



Uma ilha
By Carla Pepe

Perdida entre cores e sabores naveguei.
Remei por mares nunca antes descobertos, naufraguei.
Nadei para achar uma terra firme, boiei.
E flutuando descobri uma ilha perdida, encontrei.

Mil cores: vermelho, rosa, azul, o carvão.
Sabores: sal, pimenta, canela, a paixão.
Texturas outras: areia, mar, folha, a mão.
Aromas infinitos: chuva, orvalho, jasmim, o coração.

E pelo coração eu segui a Ilha, me aventurei...
Subi, desviei, quase cai, tropecei.
Continuei subindo, me amedrontei.
Parei, suspirei, respirei, perseverei.

E prosseguindo, enfim, eu consegui chegar.
E do mirante pude ver, contemplar.
A ilha em sua completude, admirar.
E ali em oração, finalmente respirar.

E na oração pude ver
A ilha em contornos e  reentrâncias a escolher.
Que lugar era aquele a me acolher?
E fez-se luz em meu entender.

A ilha foi se revelando do breu
E o pensamento foi clarificando o céu
A ilha agora descoberta era, na verdade, EU.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

"E serás único no mundo para mim..." (Antoine de Saint-Exupéry)




"E serás único no mundo para mim..." (Antoine de Saint-Exupéry)


A animação "O Pequeno Príncipe" da Paris Filmes do ano de 2015 parece mais uma animação para crianças, mas supera as expectativas. A proposta do diretor Mark Osborne é ir além do romance de Saint-Exupéry. É captar sua essência, é resgatar o quão belo são os encontros que temos na vida. Como somos todos seres singulares e únicos e fazemos uma grande diferença, quando queremos, daqueles que amamos.

O desenho-filme conta a historia de uma menina cuja mãe traça um plano de vida para ela: será um dia vice-presidente de uma grande corporação e para isso ela tem que entrar numa escola de renome. A menina conhece tem um vizinho idoso que cria a história do Pequeno Príncipe e fica amiga dele. E assim, vai descobrindo a vida: a brincadeira, o riso, criar histórias, pintar, se sujar, cair,  se machucar, se arriscar. Aprendizados que não estarão nos livros, nem no plano de vida traçado pela mãe.

Ver a animação nos transporta para infância: brincar na rua, pique-bandeira, pique-pega. Mas também nos conduz às expectativas dos nossos pais que acreditam ser importante para quando ficarmos adultos: sermos fortes, bem sucedidos, capazes de lidar com o monstro que é o mundo lá fora. Minha mãe, por exemplo, queria manter em mim a capacidade de se sustentar sozinha para não passar o abandono que ela passou. Mas aí fica a pergunta: será que o abandono é apenas financeiro? Será que sustentar-se financeiramente deve ser a única preocupação no mundo?

Há trecos belíssimos da animação que ficam rodeando na mente: "eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo..." Atualmente a frase mais ouvida nos ambientes é "ninguém é insubstituível." Discordo de forma veemente. Somos todos insubstituíveis. Porque fazemos a diferença na vida das pessoas por onde passamos. Somos seres singulares, únicos, mesmo que chatos, loucos e, muitas vezes, cegos ao que nos cerca.

Desejo crer que a melhor possibilidade na vida é passar por ela fazendo barulho: nas palavras, nas orações, nas brincadeiras, no sorriso, nas lágrimas, nas colocações, até mesmo na linha do tempo do Face, do instagram ou whatsapp. Tão bom estar cercados de pessoas agregam valor:
boas músicas, leituras, brincadeiras, risadas (de preferencias às gargalhadas), beijos aos montes, abraço fortes,  bons filmes, boas séries, grandes e pequenas orações. No pequeno planeta que somos cada um de nós não existe fórmula para substituir as pessoas essenciais a nossa existência.

E assim, depois de saber que somos únicos para um certo grupo de pessoa e que um certo grupo de pessoa é unico para ti. Também tomamos conhecimento de que não existe outro igual a nós. E vamos tomando consciência da nossa inteireza. E é tão maravilhoso se reconhecer única, sem igual, incomparável, singular, que só isso já vale a vida que temos. Talvez essa seja a resposta para a pergunta do abandono. A preocupação no mundo deve ser: se reconhecer unico no mundo, inesquecivelmente amado e inteiramente aceito Isso basta e ponto final. Tenho dito!!!

Fui ali ver um céu de estrelas que riem e não sei se volto...









quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Um café duplo, por favor By Carla Pepe


Um café duplo, por favor - Parte 1 - Ele e Ela 
By Carla Pepe 


Ele era jovem, devia ter uns 30 anos, descolado, cabelos bem curtos, mochila nas costas, celular no bolso, fone nos ouvidos, aquele andar despreocupado.  De vez em quanto, ele mexia a cabeça como se acompanhasse o som da música nos ouvidos. Os dedos se moviam ágeis no celular respondendo aos apps modernos que tiram os olhos das pessoas do mundo. Olham apenas a tela, a luz, o app. Ele parecia trabalhar em alguma empresa: dessas que sugam a alma, a raiz das pessoas tornando-as zumbis-trabalhadores-escravos. Todos os dias ele entrava na cafeteria e pedia o mesmo café duplo, por favor.

Ela o observava todos os dias, quase sempre no mesmo horário. Tinha certa curiosidade pelas pessoas em geral. Talvez por ter se formado em antropologia: o ser humano sempre fora seu personagem principal. Mas aquele jovem em especial atraia sua atenção, sem que ela soubesse precisar porque. Ele era bem mais jovem que ela e diferente do perfil de homens que ela gostava. Ela já tinha passado dos 40 anos e sabia que estava longe de ser uma bela mulher. Tinha seios fartos, coxas grossas, lábios carnudos e cabelos curtos como de um menino. Talvez ele a lembrasse quem ela fora outrora: febril, ambiciosa, workaholic. Alguém que vira a vida passar por entre os dedos até que decidira largar tudo e abrir aquela cafeteria-livraria. E que volta e meia era usada como Sarau de Poesia.

Ele a via todos os dias na mesma mesa. Talvez isso explicasse porque passava por ali todos os dias para tomar café. Nem gostava tanto assim de café, mas adorava olhar para ela, de admirar suas feições e expressões. Seu sorriso era de parar o coração. Gostava muito de ver que ela o observava e que corava quando ele a pegava o observando. Algo nela o intrigava e ele não sabia precisamente o que era. Ela não fazia o seu perfil de mulher. Nunca se interessara por mulheres mais velhas, nem gordinhas. Sempre gostara das mulheres bem mais jovens, como as modelos de revistas: guardavam um certo frescor e firmeza. O que ele sabia é algo naquela mulher o cativava, não sabia precisar o que. Se era a boca, o sorrisco, os olhos, ou o conjunto. Só sabia que todos os dias parava ali para beber seu café e apreciar a vista.

Liz - era o nome dela -  estava fechando a cafetaria naquele dia pensando no jovem rapaz. Ele não saia de sua cabeça. E ela resolveu dar fim naqueles pensamentos. Talvez fosse hora de aceitar o convite de Danilo ou de Sergio para sair e passarem a noite juntos. Talvez fosse isso que estivesse faltando em sua vida : sexo sem compromisso, uns drinks e nada mais. Quando chegasse em casa ia ativar sua agenda novamente.  A noite prometia forte emoções.

Ela fechava a loja, distraída, pensando nas promessas da noite, sem perceber que alguém vinha em sua direção. Eles se esbarraram. Os livros que ela segurava voaram. O celular dele caiu do bolso. As mãos se tocaram. Os olhos se encontraram. O mundo parou por instantes. Olhando para ela ali, tudo que ele conseguiu dizer foi: "já fechou? eu queria um café, por favor.."





sábado, 5 de setembro de 2015

Sexo de aço!!!!

Sexo de Aço
By Carla Pepe


Sexo de Aço
By Carla Pepe


Num mundo cercado de estereótipos ainda somos chamadas de sexo frágil. Fico sempre me perguntando que fragilidade é essa, se somos chamadas sempre à força. Claro que não temos, do ponto de vista biológico, a mesma força física dos machos. No entanto, vejo cada dia mais as mulheres sendo chamadas a ser fortes em tantos aspectos da vida que já não sei quem é de verdade o sexo frágil. Suportamos a dor com tanta força para sermos mais amadas e aceitas: tirar as cutículas, contornas sobrancelhas, depilar com cera quente o corpo (quer coisa mais dolorida!!!), colocar silicone, fazer lipo, parir os filhos (seja por parto normal ou cesarea), amamentar (algumas mulheres sentem muita dificuldade e muita dor), não amamentar (dói emocionalmente não amamentar seus filhos).

E se ainda assim não é suficiente! Ainda temos que dar conta de uma série de tomada de decisões: se queremos casar,  com quem casar, ter filhos ou não ter filhos, criar os filhos, para onde viajar, em que escola os filhos vão estudar, que rumos seguir na vida.E se, por acaso, decidimos nos ver livres da convenções, lá vem os estereótipos novamente: somos taxadas de vadias, loucas ou que estamos precisamos de um homem que nos pegue jeito. E assim vão achando que merecemos ser abandonadas grávidas, ter HIV, Hepatite e até mesmo ser estupradas. Como se isso fosse algum tipo de mérito pela roupa, tatuagem ou mesmo atitude diante da vida. Não é!!! Merecemos respeito e dignidade. Precisamos de compas com quem dividir a vida, as dores, as decisões, o pau, a pedra, o caminho, a luta.

Eu acredito na Rita que canta "minha força não é bruta, não sou freira, nem sou puta" (Pagu, Rita Lee). Podemos ser um pouco de tudo: freira, vadia, mãe, presidenta, lider religiosa, madalena. Mas queremos mais: queremos a Lua, o Sol, as Estrelas, o Gozo, o Riso. Porque vemos um horizonte adiante. Porque o mundo para nós, é também futuro, não apenas presente e passado. É vento forte que nos leva para frente. Somos ciclone, somos tempestade,  somos maremoto, somos vela acesa que incendeia a vida. Somos mulheres. Somos filhas. Somos mães. Somos Maria. Somos sexo forjado aço e no maço repleto de flores!!!


https://www.youtube.com/watch?v=dbFjQl-8B0A

Siglas:
Compas= companheiro(a)

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Compas= companheiro(a)