domingo, 24 de fevereiro de 2008

E o amor, alguém achou? - Carla Pepe

E o amor, alguém achou?
By Carla Pepe

Estava hoje refletindo a partir da conversa com uma amiga que está sofrendo. Sofrendo por causa do namoro terminado. Depois de muito refletir vi que não era isso. Era algo mais profundo. Era a dor do amor que não é amado. E percebi que todos nós invariavelmente queremos ser amados. Desde o ventre materno buscamos o amor. Buscamos o seio, o aconchego, o colo. Quando crescemos protegidos, amados por aquilo que somos, crescemos seguros e confiantes, como também egoístas e mimados. Infelizmente, alguns de nós, crescem em espaços de pouca proteção, de lutar árdua pela sobrevivência, de abandono. Nossos pais tentam a todos custo nos ofertar tudo o que tem, mas o que eles tem?

E assim vamos buscando ser amados. Vamos nos anulando, nos calando, muitas vezes nos atrofiando. Não gritamos, esperneamos, porque isso talvez signifique perder pessoas queridas no caminho. Não nos desafiamos, porque isso talvez signifique não conhecer o que está além. E aí quando a vida nos aprisiona, quando a nossa liberdade é posta na mesa, quando nosso grito fica preso na garganta, quando a mágoa fica presa no coração, nesse momento, de frente ao muro, somos desafiados a transpô-lo.

É preciso entender de uma vez por todas que o amor não é condição, é conteúdo, é forma, é essência. É preciso entender que o amor é capaz de superar o grito, a mágoa, o desafio. O amor é metamórfico. E não está longe, não está em cima, nem embaixo, nem fora. Está, onde aliás sempre esteve, dentro...dentro de você, de mim. Porque do amor viemos e ao amor voltaremos. Por isso, essa semana eu proponho a você: desafie-se, enfrente-se, grite, chame aquele amigo para conversar, beije a namorada, o namorado, fale para aquela amiga que você a admira, saia, beba, usa uma roupa diferente, dance, cante agressivamente. Seja você mesmo e outros....os outros que te amem!!!




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Presença - Mario Quintana

Presença

"É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te"