segunda-feira, 25 de abril de 2016

Mudanças - Carla Pepe


Mudanças
By Carla Pepe
‪#‎Carla440‬
Eram caixas e mais caixas. Umas eram de papelão, outras eram coloridas, haviam aquelas que eram de plástico e tinham umas que estavam totalmente remendadas com fita durex. Eram voltas e voltas de fita. Ela carregava uma a uma para a estante. E arrumava. Seu rosto já estava cheio de pó, suas mãos grudavam de sujeira, suas roupas fediam a suor. Mas o sentimento era de liberdade.
Conseguia dar novas formas aquele lugar que antes nem parecia seu. Era sério demais, compenetrado demais, bondoso demais, as caixas tinham todas a mesma cor. As caixas coloridas ficavam sempre escondidas. Ela nem podia dizer que a culpa da bagunça ou daquela arrumação sem a sua cara era dos outros. Afinal, ela tinha construído aquele lugar daquele jeito. Só que agora desejava diferente, via o mundo de um jeito novo. As caixas coloridas se misturavam às cheias de durex que por sua vez se embolavam às recém compradas.
Ela despiu-se, tomou um banho, se arrumou e convidou as pessoas a conhecer seu novo espaço. Convidou novos amigos, velhos também. Tinha aqueles inconvenientes e os coerentes. Tinhas os poetas e os ascetas. A todos recebeu com uma boa cerveja, boa música e um grande sorriso. Também não faltou sinceridade, nem mesmo reciprocidade. Veio gente de todo lugar e de todo tipo. Talvez porque ela fosse mulher sem molde ou padrão. Não cabia na palma de nenhuma mão.
Muita gente saiu de lá achando que ela tinha ficado louca, outras que ela era uma pessoa incomum. Havia aquelas que cochichavam afirmando que era uma criatura exótica. Outros diziam afinal o que esperar de uma uma mulher que escreve poesia erótica. Tinham aqueles que, secretamente, a admiravam. Mas também havia os que nem a tinham notado. Mas havia, os especiais, aqueles que a amavam e para quem os sorrisos eram sempre dirigidos.
O tempo todo ela parecia indiferente aos comentários de toda gente. Ela exibia um sorriso límpido e sensual. Ela é totalmente sensorial e naquele dia estava plenamente feliz naquele lugar, que agora era, exatamente, como sempre quis.


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