sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Sobre gordofobia, relações sociais e resistência.

Sobre gordofobia, relações sociais e resistência.

Todos os dias escuto pessoas relativamente magras se achando gordas. Mães preocupadas que seus filhos fiquem gordos. Considero tudo muito legal. Mas eu sou gorda real. Braços, pernas, bunda, peito, barriga.

Desejo perder peso? Desejo. Não, na velocidade da luz. Sou obcecada com meu peso? Não. Ele não define quem sou. Mas, muitas vezes, define como me vêem. Muitas pessoas pensam que eu deveria aceitar qualquer situação, por ter um corpo gordo. Muitos homens me consideram carente, por ter um corpo gordo. Muita gente me vê sedentária, com pouco vigor, por ter um corpo gordo.

O que sou? Sou poeta, escritora, busco uma existência singular, atrevida, ousada, adoro fotografar, ser fotografa, amo meu trabalho e o faço de forma brilhante. Sou linda, tenho um sorriso cativante, uma alma repleta de amor. Sou mãe de uma menina linda que se inspira em mim para tantas coisas, inclusive tem orgulho da mãe-poeta. Sou mulher repleta de desejos, livre, segura. E nada disso é estático, tudo isso pode mudar há qualquer momento.

Muitos amigos fazem sim comentários muito bem intencionados, mas tão opressores quanto o sistema que os oprimem. Mulheres são pressionadas pela estética e por mais amigas, maravilhosas que sejam, também sofrem opressões e repetem a fala do sistema que as oprimem. Tudo que é fora do padrão, sempre vai incomodar um sociedade que procura segregar pessoas em caixas.

Eu escolho seguir a linha de um pensador francês - Dejours - que entende saúde como ter caminhos e ferramentas para enfrentar diferentes situações. Afinal, somos singulares, sujeitos a formas distintas de opressão, discriminação, genética e pensamento.

Meu corpo, meu
Sagrado!
Repleto de amor
Profano!
Meu corpo, meu
Insano!
Não é público.
Não é seu!
Carla Pepe


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